Sabia que mais de 200 mil pessoas sofrem de demência em Portugal?
Falar de demência é falar de uma caminhada difícil, para quem vive com a doença e para quem cuida. Aos poucos, a memória começa a falhar, os comportamentos mudam, e o dia a dia deixa de ser o mesmo. É duro, confuso, por vezes até injusto.
Mas saber o que esperar pode fazer a diferença. Porque, mesmo quando tudo parece desorganizar-se, há formas de cuidar com mais calma, mais presença e menos medo.
Pontos-chave do artigo
- A demência é um conjunto de sintomas que afeta a memória, o raciocínio e o comportamento, e que se agrava ao longo do tempo
- Existem vários tipos de demência, sendo os mais comuns: Alzheimer, demência vascular, demência com corpos de Lewy e demência frontotemporal
- Cada tipo de demência tem manifestações diferentes, mas geralmente evoluem por três fases: inicial, moderada e avançada
- Identificar os primeiros sinais e conhecer as fases ajuda a preparar melhor o apoio à pessoa com demência
- O diagnóstico precoce, os estímulos cognitivos e o ambiente de apoio podem abrandar a progressão da doença
- Apoiar alguém com demência exige adaptação constante, empatia e, muitas vezes, apoio especializado.
O que é a demência?
A demência não é uma doença específica, mas sim um termo usado para descrever um conjunto de sintomas que afetam o cérebro. Falamos de perdas progressivas de memória, dificuldade em pensar, comunicar, tomar decisões ou até reconhecer rostos e lugares familiares. Estes sintomas interferem com a autonomia da pessoa e tornam, aos poucos, o dia-a-dia mais desafiante.
Em Portugal, estima-se que os casos de demência possam duplicar até 2080, ultrapassando os 450 mil casos (quase 5% da população) segundo um estudo do CIDIFAD. Este aumento está diretamente ligado ao envelhecimento da população, tornando ainda mais urgente a aposta na prevenção, no diagnóstico precoce e no apoio às famílias.
Perante este cenário, é importante conhecer melhor a doença e compreender como se manifesta. Existem vários tipos de demência, mas todos têm um ponto em comum: são doenças progressivas. Tal significa que os sintomas começam de forma leve e agravam-se com o tempo.
Quais são os primeiros sinais de demência?
Os primeiros sinais de demência podem ser subtis – tão subtis que muitas vezes se confundem com “coisas da idade” ou simples cansaço. Mas há comportamentos e esquecimentos que, quando se tornam frequentes, merecem atenção.
Alguns dos sinais mais comuns incluem:
- Esquecimentos recentes, como repetir perguntas ou esquecer onde pôs objetos
- Dificuldade em encontrar palavras ou seguir uma conversa
- Desorientação no tempo e no espaço, mesmo em locais familiares
- Alterações de humor ou comportamento, como irritabilidade, apatia ou desconfiança injustificada
- Menor capacidade para planear ou tomar decisões simples, como preparar uma refeição ou pagar contas.
Estes sinais não significam, por si só, que se trata de demência, mas são um alerta importante para procurar avaliação médica. Quanto mais cedo for feito o diagnóstico, mais cedo se pode atuar para abrandar a progressão e garantir melhor qualidade de vida.
Para mais informações e apoio, pode consultar a Alzheimer Portugal, uma das principais referências nacionais na área.
Os quatro tipos mais comuns de demência
Nem todas as demências são iguais. Enquanto umas começam com esquecimentos aparentemente inofensivos, outras manifestam-se por mudanças de personalidade ou por episódios de alucinação.
Conhecer os diferentes tipos de demência é um passo importante para compreender melhor o que se passa com a pessoa que vive com a doença… e até para evitar julgamentos precipitados.
Doença de alzheimer
É a forma mais comum de demência. Afeta, sobretudo, a memória e começa, muitas vezes, com esquecimentos aparentemente inofensivos. Com o tempo, vai comprometendo a linguagem, o raciocínio e a capacidade de reconhecer pessoas ou lugares.
Demência vascular
Provocada por problemas de circulação no cérebro, como AVCs ou pequenos derrames. Os sintomas dependem da zona afetada e a progressão pode ser feita aos “saltos”, ou seja, a pessoa pode piorar subitamente após um novo episódio vascular.
O tempo de vida com demência vascular depende da gravidade dos acidentes vasculares cerebrais anteriores, das comorbilidades e da rapidez com que o declínio cognitivo se instala. Em média, após o diagnóstico, a esperança de vida pode variar entre 5 e 10 anos, mas com grandes variações entre pessoas.
Demência com corpos de Lewy
Caracteriza-se por oscilações no estado de atenção, alucinações visuais, tremores e rigidez muscular. Pode ser confundida com o Parkinson, mas o declínio cognitivo surge mais cedo. A memória pode até estar preservada nas fases iniciais.
Demência frontotemporal
Afeta as regiões frontal e temporal do cérebro, o que significa que os primeiros sinais nem sempre estão ligados à memória. Em vez disso, o que se nota mais cedo são mudanças de comportamento, impulsividade, dificuldade em comunicar ou até perda de empatia.
Foi este o tipo de demência diagnosticado ao ator Bruce Willis, um caso que trouxe maior visibilidade à doença e mostrou ao mundo o impacto real que pode ter, mesmo em pessoas ainda relativamente jovens.

Fase inicial (ligeira)
Nesta fase, os sinais podem passar despercebidos ou ser confundidos com o envelhecimento natural. A pessoa continua relativamente autónoma, mas começam a notar-se mudanças subtis.
O que é comum nesta fase:
- Esquecimentos frequentes, sobretudo de acontecimentos recentes
- Dificuldade em encontrar palavras certas ou acompanhar uma conversa
- Desorientação em locais menos familiares
- Alterações de humor ou apatia
- Perda de iniciativa ou interesse por hobbies
- Pequenos erros no manuseamento de dinheiro ou em tarefas domésticas simples.
Fase intermediária (moderada)
Aqui, os sintomas tornam-se mais evidentes e passam a interferir no dia-a-dia. A pessoa começa a precisar de ajuda com tarefas básicas e a perda de autonomia é mais notória.
Nesta fase podem surgir:
- Esquecimentos constantes, mesmo de acontecimentos importantes
- Desorientação no tempo e no espaço
- Dificuldade em vestir-se ou preparar refeições
- Confusão com rostos de familiares ou amigos
- Alterações de comportamento (agressividade, desconfiança, repetição de palavras)
- Problemas de linguagem e compreensão
- Início de incontinência urinária.
Fase avançada (grave)
É a fase mais difícil e dolorosa. A pessoa perde grande parte das capacidades cognitivas e físicas. Fica totalmente dependente para todas as atividades básicas e pode não reconhecer ninguém à sua volta.
É comum encontrar:
- Incapacidade de comunicar ou compreender linguagem
- Imobilidade, com perda de coordenação e equilíbrio
- Dificuldade em engolir ou alimentar-se
- Incontinência total
- Ausência de reconhecimento de familiares
- Agitação, inquietação ou apatia extrema
- Maior risco de infeções, como pneumonias.
Nesta fase, o foco passa a ser o conforto:
- Cuidados paliativos e atenção à dor
- Estímulos sensoriais simples (como o toque, a música ou o cheiro)
- Preservar a dignidade e o bem-estar emocional.
É importante lembrar que estas fases são apenas uma orientação geral. Nem todas as pessoas com demência vivem a doença da mesma forma – os sintomas podem surgir em momentos diferentes, variar em intensidade ou mesmo na ordem.
Cada tipo de demência tem o seu próprio ritmo e forma de evolução. De seguida, veja como estas fases se manifestam nos principais tipos de demência.
Fases do alzheimer (a demência mais comum)
- Fase inicial: perda de memória recente, desorientação no tempo, dificuldade em encontrar palavras
- Fase intermédia: maior confusão, dificuldade em reconhecer pessoas próximas, alterações de comportamento (irritabilidade, desconfiança), dificuldade em realizar tarefas do dia a dia
- Fase avançada: perda de memória a longo prazo, dificuldades motoras, perda da fala, necessidade total de cuidados.
Evolução geralmente lenta e progressiva, com início silencioso.
Fases da demência vascular
- Fase inicial: sintomas variáveis conforme as áreas do cérebro afetadas (podem surgir de forma súbita após um AVC)
- Fase intermédia: dificuldade na concentração, planeamento e raciocínio lógico
- Fase avançada: progressão em “degraus” — períodos estáveis seguidos de declínios abruptos; eventual dependência total.
Evolução mais irregular, com flutuações e agravamentos súbitos.
Fases da demência com corpos de Lewy
- Fase inicial: flutuações de lucidez, alucinações visuais vívidas, problemas de sono (como distúrbio comportamental do sono REM)
- Fase intermédia: rigidez muscular, tremores semelhantes aos do Parkinson, confusão mental
- Fase avançada: forte declínio cognitivo, agravamento dos sintomas motores e risco de quedas.
Alucinações precoces e flutuações acentuadas são marcas distintivas.
Demência frontotemporal fases
- Fase inicial: mudanças de personalidade, impulsividade, desinibição, linguagem empobrecida ou repetitiva
- Fase intermédia: perda de empatia, comportamentos compulsivos, dificuldade crescente em comunicar
- Fase terminal: mutismo, rigidez física, necessidade de cuidados constantes.
Afeta primeiro o comportamento e a linguagem, e não tanto a memória.
O que pode ajudar a abrandar a progressão?
Embora a demência não tenha cura, não significa que nada possa ser feito. Há pequenas escolhas no dia a dia que podem fazer uma grande diferença, ajudar a manter as capacidades durante mais tempo e tornar o percurso mais leve, tanto para quem vive com a doença como para quem cuida.
- Estimular o cérebro (leitura, música, jogos simples)
- Fazer exercício físico leve e regular
- Ter uma alimentação saudável e equilibrada
- Dormir bem e evitar o stress
- Manter o convívio social sempre que possível
- Controlar outras doenças (como diabetes ou hipertensão)
- Estar atento a sinais de delírio, infeções ou quedas.
Como apoiar alguém com demência em cada fase
Viver ou cuidar de alguém com demência é um caminho exigente, com momentos de frustração, mas também de profunda ligação. À medida que a doença progride, as necessidades da pessoa vão mudando – e é importante adaptar a forma de comunicar, de cuidar e de estar presente.
Deixamos-lhe algumas orientações práticas para cada fase:
Fase inicial: apoiar a autonomia
- Estimular a memória e o raciocínio com jogos, conversa e tarefas simples.
- Promover rotinas estruturadas, como horários fixos para refeições e medicação
- Incentivar a autonomia, mesmo que a pessoa precise de mais tempo para fazer certas tarefas
- Falar com calma e clareza, respeitando o tempo de resposta
- Ajudar na aceitação do diagnóstico, ouvindo sem julgamento e oferecendo segurança.
Fase intermédia: proteger e adaptar
- Reduzir riscos em casa, como tapetes soltos, fogões ligados ou objetos perigosos
- Usar lembretes visuais: etiquetas nos armários, calendários com imagens, fotografias com nomes
- Apoiar na higiene e alimentação, mantendo sempre o respeito pela dignidade da pessoa
- Estimular a socialização e as memórias afetivas, mesmo que algumas recordações já se tenham perdido.
Fase avançada (grave): cuidar com presença e afeto
- Garantir conforto físico e emocional: roupa macia, ambiente calmo, música suave
- Falar com a pessoa, mesmo que não responda — a presença afetuosa continua a fazer diferença
- Atenção aos sinais não verbais: um gesto de desconforto ou uma expressão facial pode indicar dor, frio ou fome
- Procurar apoio especializado, como equipas de cuidados paliativos ou de apoio ao cuidador.
A demência é uma condição que toca profundamente a vida de quem a vive e de quem cuida. Cada fase traz desafios, sim, mas também pode trazer novas formas de conexão, presença e cuidado. Não há uma fórmula mágica nem um caminho igual para todos, mas há sempre algo que pode ser feito: ouvir, adaptar, acolher.
Se há alguém próximo a passar por este caminho, saiba que não está sozinho. Apoiar alguém com demência exige tempo, paciência… e, muitas vezes, apoio especializado.
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