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pulmão com doença pulmonar obstrutiva crónica

DPOC: a tosse que não deve ser ignorada

Sabia que há cerca de 800 mil pessoas com DPOC em Portugal e que 7 em cada 10 nem sequer sabem que têm a doença?

 

É que os sinais, muitas vezes, parecem apenas cansaço do dia a dia: uma tosse persistente, falta de ar ao subir escadas, o peito que aperta com o frio. O corpo vai resistindo, até que respirar já não é tão simples assim. E é nesse momento que se descobre a DPOC – uma doença invisível, mas real, que precisa de ser reconhecida antes que avance em silêncio.

Pontos-chave do artigo

  • A DPOC é uma doença respiratória crónica e progressiva que afeta cerca de 800 mil pessoas em Portugal
  • Tosse persistente, falta de ar e cansaço são sintomas comuns, mas muitas vezes ignorados
  • A principal causa é o tabagismo, embora a exposição a poeiras, fumos e fatores genéticos também possa contribuir
  • O diagnóstico é feito com espirometria, mas 70% dos casos continuam por identificar
  • Não tem cura, mas pode ser travada com tratamento adequado, reabilitação respiratória e mudanças no estilo de vida
  • A prevenção, o diagnóstico precoce e o acompanhamento são essenciais para melhorar a qualidade de vida.

DPOC: o que é?

Não é uma doença única, mas sim um “guarda-chuva” que junta duas condições respiratórias crónicas: a bronquite crónica e o enfisema pulmonar. Ambas causam obstrução das vias respiratórias, dificultando a passagem do ar e tornando a respiração um verdadeiro esforço.

 

A obstrução não desaparece por si e vai piorando com o tempo, sobretudo se não for diagnosticada e acompanhada. Mas nem tudo são más notícias: com o tratamento certo e algumas mudanças no estilo de vida, é possível viver melhor com DPOC.

Causas e fatores de risco

A grande vilã tem nome conhecido: tabaco. Fumar, durante anos, é a principal causa de DPOC.

Mas há mais fatores a ter em conta:

 

  • Exposição a poeiras, fumos e produtos químicos, especialmente em ambientes de trabalho
  • Poluição do ar, sobretudo em meios urbanos
  • Fumo das lareiras, comum em casas mal ventiladas em zonas rurais
  • Infeções respiratórias frequentes na infância
  • Histórico familiar ou deficiência genética (como a ausência da proteína alfa-1-antitripsina, rara mas relevante).


Importa reforçar: nem todos os fumadores têm DPOC, mas quanto mais tempo e quantidade se fuma, maior é o risco. E, claro, quem já tem asma ou outras doenças respiratórias está ainda mais vulnerável.

DPOC: sintomas

A DPOC instala-se devagar, muitas vezes silenciosamente. Por isso, os primeiros sintomas são facilmente desvalorizados. Mas há sinais a que se deve estar atento:

 

  • Tosse crónica, seca ou com expetoração (frequentemente associada ao tabaco e por isso ignorada)
  • Pieira (um som agudo ao respirar)
  • Sensação de aperto no peito
  • Falta de ar (dispneia), primeiro ao esforço, depois até em repouso
  • Cansaço constante e limitação nas atividades diárias
  • Em fases mais avançadas: ansiedade, emagrecimento, infeções respiratórias frequentes e até coloração azulada dos dedos (sinal de falta de oxigénio).

Como é feito o diagnóstico?

A progressão é lenta, mas contínua, e é por isso que identificar o problema cedo faz toda a diferença. O exame mais usado para confirmar o diagnóstico é a espirometria – um teste simples, mas essencial, que mede a quantidade de ar que os pulmões conseguem inspirar e expirar. Também pode ser complementada com:

 

  • Raio-X ou TAC torácica (para detetar enfisema e excluir outras doenças)
  • Análises de sangue e gasometria arterial (para medir os níveis de oxigénio e dióxido de carbono)
  • Avaliação da deficiência genética de alfa-1-antitripsina, em casos suspeitos.

 

Se há tosse persistente, expetoração, cansaço e histórico de tabagismo ou exposição a agentes irritantes, vale sempre a pena marcar uma consulta com um pneumologista.

DPOC em Portugal: o peso dos números e o alerta dos especialistas

Apesar de afetar cerca de 800 mil pessoas em Portugal, a DPOC continua largamente desconhecida pela população. Estima-se que 70% dos casos estejam por diagnosticar, o que significa que muitos doentes não recebem acompanhamento nem tratamento adequado. E isto tem consequências sérias: só em 2022, as doenças respiratórias causaram mais de 12 mil mortes no país, e os especialistas alertam que podem vir a tornar-se a principal causa de morte até ao final da década.

 

Este cenário levou à criação de várias iniciativas de sensibilização e investigação, como o Fórum Saúde Respiratória 2025, que defende uma resposta integrada à crise das doenças respiratórias, e o novo estudo nacional promovido pela Sociedade Portuguesa de Pneumologia e pela AstraZeneca Portugal, que vai ajudar a traçar o perfil clínico e terapêutico dos doentes com DPOC em Portugal. O objetivo é claro: melhorar o diagnóstico precoce, personalizar os cuidados e garantir uma resposta mais justa e acessível à população.

médico a examinar raio x de um pulmão

DPOC GOLD: o que é e como se mede?

A classificação GOLD (Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease) é usada internacionalmente para avaliar o grau de obstrução e orientar o tratamento e ajuda os médicos a escolher o plano terapêutico mais adequado para cada doente.

Baseia-se nos resultados da espirometria e divide a DPOC em quatro estágios:

 

  • GOLD 1 (Ligeira): sintomas leves, poucos impactos na vida diária
  • GOLD 2 (Moderada): mais falta de ar, limitações ao esforço físico
  • GOLD 3 (Grave): maior limitação funcional e risco de exacerbações
  • GOLD 4 (Muito grave): sintomas constantes e risco de insuficiência respiratória.

Tratamento da DPOC

A DPOC não tem cura, mas tem tratamento. E quanto mais cedo for iniciado, maiores são os benefícios.

Medidas fundamentais

  • Parar de fumar. É o passo mais importante e o único que pode travar a progressão da doença;
  • Evitar ambientes poluídos ou com fumos tóxicos
  • Vacinação anual contra a gripe e pneumococos, para prevenir infeções
  • Fisioterapia respiratória e reabilitação pulmonar, que ajudam a recuperar a capacidade física e respiratória.

Medicamentos disponíveis

  • Broncodilatadores (inaladores de curta ou longa duração): ajudam a abrir as vias respiratórias e facilitam a respiração
  • Corticosteróides inalados, que reduzem a inflamação e previnem crises
  • Antibióticos, quando há infeções respiratórias
  • Oxigenoterapia, nos casos em que os níveis de oxigénio estão baixos
  • Ventilação não invasiva (com máscara), em situações mais graves.

 

Nos casos mais avançados, pode ser considerada a cirurgia de redução do volume pulmonar ou, em última instância, transplante pulmonar.

Quanto tempo de vida tem um doente DPOC?

Mais do que contar anos, o importante é melhorar os dias. O tempo de vida após o diagnóstico depende de vários fatores: idade, gravidade da doença, presença de outras condições e, acima de tudo, se a pessoa continua a fumar. Em geral:

 

  • Quem tem DPOC ligeira a moderada e adota um bom controlo da doença pode viver muitos anos com qualidade
  • Nos estágios mais avançados, o prognóstico é mais reservado, mas o tratamento certo pode prolongar a vida e melhorar os sintomas.

Viver com DPOC: adaptar o corpo, cuidar da mente e seguir em frente

Conviver com DPOC exige ajustes. É verdade que a doença impõe limites (no corpo, no fôlego, nas rotinas) mas também é verdade que há muito que pode ser feito para tornar o dia a dia mais leve, mais respirável.


E não se trata apenas de medicação. O cuidado com o corpo e a mente faz toda a diferença:

 

  • Aprender técnicas de respiração, com a ajuda de um fisioterapeuta, pode ajudar a gerir melhor os momentos de maior dificuldade
  • Praticar exercício físico regular, adaptado à capacidade de cada um, ajuda a manter a mobilidade e a força muscular
  • Ter uma alimentação equilibrada, que evite perdas de peso ou excesso de gordura, melhora a energia e a capacidade respiratória
  • Evitar locais com fumo ou poluição é essencial para proteger os pulmões
  • Cuidar da saúde emocional, falando sobre os medos e procurando apoio psicológico, pode aliviar o peso da ansiedade que tantas vezes acompanha a falta de ar.

Respirar pode dar mais trabalho, mas continua a ser possível. E cada suspiro conta. Se suspeita que pode ter DPOC, não adie. Um diagnóstico a tempo pode mudar tudo. E se já vive com a doença, lembre-se: há sempre forma de cuidar, adaptar e continuar a viver.

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