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ALS (doença): o que é, sintomas e tratamento da Esclerose Lateral Amiotrófica

Quando Stephen Hawking foi diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica (ELA), disseram-lhe que teria apenas alguns anos de vida. Viveu mais de 50. A ALS, como também é conhecida, é uma doença degenerativa rara que afeta os músculos e tira, aos poucos, a capacidade de andar, falar, engolir ou respirar. Venha connosco, aprender um pouco mais sobre esta condição.

Pontos-chave do artigo

  • A ALS (ou ELA) é uma doença neurológica degenerativa rara e progressiva que afeta os músculos e compromete funções como andar, falar ou respirar
  • Os sintomas surgem de forma gradual e variam, mas incluem fraqueza muscular, dificuldades na fala e na deglutição, entre outros
  • Ainda não existe cura, mas há tratamentos que ajudam a abrandar a progressão e a melhorar a qualidade de vida
  • O diagnóstico é clínico e exige a exclusão de outras doenças, sendo geralmente demorado
  • O apoio familiar e o acompanhamento por equipas multidisciplinares são fundamentais ao longo de todo o processo
  • A investigação científica tem registado avanços promissores, como novas terapias genéticas, imunológicas e tecnologias de apoio à comunicação.

O que é a ALS?

É uma doença neurológica degenerativa que afeta os neurónios motores, que são as células nervosas responsáveis por enviar mensagens do cérebro e da medula espinal para os músculos. Quando estes neurónios deixam de funcionar, os músculos perdem a capacidade de contrair-se corretamente e começam a enfraquecer.

 

Com o tempo, funções tão simples como andar, falar, engolir ou respirar tornam-se cada vez mais difíceis. E é por isso que a ALS é considerada uma doença degenerativa progressiva; vai-se agravando com o tempo e afeta de forma crescente a autonomia da pessoa.

Diferença entre ALS e ELA

ALS e ELA são, na prática, a mesma coisa. A sigla ALS (do inglês Amyotrophic Lateral Sclerosis) é mais usada internacionalmente. Em Portugal, o termo mais comum é ELA – Esclerose Lateral Amiotrófica. Ambos se referem à mesma condição neurológica.

Causas da ALS

A verdade é que ainda não se sabe ao certo o que provoca a ALS. Na maioria dos casos, a doença surge sem aviso e sem histórico familiar. Apenas cerca de 5 a 10% dos casos têm origem genética.

 

Estão a ser estudadas possíveis ligações com fatores ambientais como exposição a toxinas, tabagismo ou até serviço militar, mas não há, até agora, uma explicação clara ou uma causa identificável na maioria dos casos.

 

Sabemos que é mais comum em homens, geralmente a partir dos 60 anos, e que a sua evolução é muito variável de pessoa para pessoa. Estima-se, ainda, uma prevalência de três a cinco casos por cada 100 mil pessoas.

Quais são os primeiros sintomas da ALS?

Os sintomas do ELA podem começar de forma subtil, mas ganham força com o tempo. Os primeiros sinais costumam aparecer nas mãos, pernas ou na fala. Apesar de a maioria manter as capacidades mentais intactas, há doentes que desenvolvem também formas de demência associadas.

 

Alguns dos sintomas mais frequentes:

 

  • Fraqueza muscular nas pernas ou nos braços
  • Dificuldade em andar, segurar objetos ou escrever
  • Atrofia muscular (músculos que diminuem de volume)
  • Espasmos e cãibras frequentes
  • Fala arrastada ou dificuldade em articular palavras
  • Dificuldade em engolir
  • Aumento de saliva
  • Cansaço extremo
  • Alterações emocionais ou cognitivas (em alguns casos).

Como diagnosticar a ALS?

O diagnóstico da doença de ALS é clínico, o que significa que depende da avaliação dos sintomas e da exclusão de outras doenças. Não existe um único exame que confirme a ELA de forma imediata.


Normalmente, o neurologista realiza:

 

  • Exame neurológico detalhado
  • Eletromiografia (para analisar a atividade elétrica dos músculos)
  • Ressonância magnética
  • Análises ao sangue e à urina
  • Biópsias musculares ou nervosas, em alguns casos.


Infelizmente, todo o processo pode demorar, o que atrasa o início dos tratamentos de suporte.

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ALS tem cura? Qual é o tratamento?

Até ao momento, a ALS não tem cura, mas existe medicação que pode ajudar a abrandar a progressão da doença e a preservar algumas funções durante mais tempo. Os resultados variam de pessoa para pessoa, mas o objetivo passa sempre por proporcionar conforto, aliviar sintomas e manter a autonomia o máximo possível.


O tratamento exige uma abordagem integrada e multidisciplinar, que pode envolver:

 

  • Fisioterapia e terapia ocupacional
  • Terapia da fala
  • Apoio nutricional (e, em muitos casos, alimentação por sonda)
  • Ventilação não invasiva, quando a respiração fica comprometida
  • Equipamentos de apoio à mobilidade e comunicação.


Ao longo de todo o processo, é fundamental contar com uma equipa especializada: médicos, fisioterapeutas, terapeutas da fala, nutricionistas, psicólogos, cuidadores e outros profissionais que ajudam a ajustar o plano de cuidados às necessidades de cada pessoa.


Apesar de ainda não existir uma cura, a investigação científica tem avançado a passos largos. Em 2023, foi aprovado nos EUA o primeiro tratamento direcionado a uma mutação genética associada à ELA – o gene SOD1 – uma forma hereditária da doença, representando um marco na medicina personalizada (Mass General Brigham).


Também estão a ser estudadas abordagens inovadoras, como a imunoterapia com anticorpos monoclonais, que poderá ajudar a retardar a progressão da doença (OHSU).


Outro avanço notável deu-se na área da tecnologia assistiva: um implante cerebral experimental permitiu a um doente com ELA recuperar a capacidade de comunicação através de uma interface cérebro-computador, atingindo uma velocidade de até 32 palavras por minuto (Reuters).

Qual a expetativa de vida de pessoas com ALS?

A expectativa de vida média após o diagnóstico varia entre dois a cinco anos, embora existam exceções. O físico Stephen Hawking, por exemplo, viveu décadas com a doença.

 

Tudo depende da velocidade de progressão e das áreas do corpo inicialmente afetadas. A forma bulbar, que afeta logo a fala e a deglutição, tende a evoluir mais rapidamente.

 

A insuficiência respiratória é a principal causa de morte nos casos mais avançados. Por isso, investir em tratamentos de suporte logo no início pode fazer uma grande diferença na qualidade e no tempo de vida da pessoa com ELA.

Viver com ALS: o papel da família e dos cuidadores

Receber um diagnóstico de ALS é um momento difícil, tanto para o doente como para quem o rodeia. É uma doença de impacto profundo, que exige adaptações constantes e apoio contínuo.

 

Os cuidadores familiares tornam-se peças-chave na vida do doente. São eles que, muitas vezes, garantem o acompanhamento diário, ajudam nas tarefas básicas e dão suporte emocional. É fundamental que os cuidadores também tenham apoio. Grupos de entreajuda, acompanhamento psicológico e descanso programado são formas de cuidar de quem cuida.

 

A 21 de junho assinala-se o Dia Mundial da Esclerose Lateral Amiotrófica, uma data que pretende dar voz às pessoas que vivem com esta doença e reforçar a importância da investigação, do apoio às famílias e da sensibilização para uma realidade que ainda é pouco conhecida por muitos.

 

Na APELA (Associação Portuguesa de Esclerose Lateral Amiotrófica), todos os dias são vividos com a missão de dar voz, apoio e esperança a quem enfrenta a esclerose lateral amiotrófica. Porque ninguém deve passar por esta doença sozinho.

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