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cuidadora a segurar a mão de idoso

Doença de Parkinson: sintomas, diagnóstico e cuidados essenciais

Segundo a Organização Mundial de Saúde, o Parkinson é a segunda doença neurodegenerativa mais frequente, logo a seguir ao Alzheimer, afeta cerca de 10 milhões de pessoas no mundo.

 

Em Portugal estima-se que esta doença atinja cerca de 20 mil pessoas e é mais frequente entre os homens.

Pontos-chave do artigo

  • Neste artigo explicamos, de forma simples, os sintomas, como se faz o diagnóstico
  • Terapias recomendadas e os cuidados diários
  • A doença nos jovens
  • Adaptações em casa
  • Serviços de apoio em Portugal

O que é a doença de Parkinson?

Esta doença resulta da redução dos níveis de dopamina, quando existe esta redução dá-se a morte das células cerebrais que a produzem. A dopamina é responsável pela atividade muscular no nosso cérebro, quando reduzida os movimentos do corpo ficam afetados.

 

Quando surgem os sintomas, por norma significa que entre 60 a 80% das células produtoras da dopamina já se perderam.

Quem é mais afetado?

É mais frequente após os 60 anos e ligeiramente mais comum nos homens, mas pode surgir em idades mais jovens.

Pakinson juvenil

Quando o diagnóstico ocorre antes dos 50 anos, fala-se em Parkinson juvenil. Pode ter uma progressão mais lenta, mas maior risco precoce da variação da eficácia dos medicamentos, movimentos involuntários do corpo e desafios específicos (trabalho, família, planeamento a longo prazo).

Sintomas motores

  • Bradicinesia: movimentos voluntários mais lentos
  • Tremor de repouso: movimentos involuntários, quando em repouso pode envolver várias partes do corpo como: mãos, braços, pernas ou queixo (nem todos os doentes apresentam este sintoma)
  • Rigidez muscular: membros e tronco “presos”, falta de flexibilidade tanto dos membros como das articulações
  • Alterações do equilíbrio e marcha (instabilidade postural, passos curtos, “freezing”).

Sintomas não motores

  • Olfato diminuído
  • Distúrbios do sono (incluindo “agir os sonhos”/RBD)
  • Sintomas neuropsiquiátricos: depressão, ansiedade, apatia, alucinações
  • Disfunções autonómicas: queda da tensão ao levantar, problemas urinários/sexuais.

 

Estes sintomas podem impactar mais a qualidade de vida do que os motores e por vezes antecedem-nos anos.

Progressão da doença

A velocidade de progressão varia muito entre pessoas assim como os sintomas. Os médicos costumam utilizar a escala de Hoehn e Yahr de forma a medir a progressão da doença ao longo do tempo.

 

Estado 1: Inicial

Os sintomas são mais leves e não interferem nas atividades diárias, o tremor apresenta-se em apenas um dos lados do corpo. Quem rodeia o doente pode reconhecer mudanças como: postura, perda de equilíbrio e de expressões faciais.

 

Estado 2: Bilateral

Os sintomas tendem a piorar, afetando os dois lados do corpo. Existe uma dificuldade em caminhar, uma piora da postura, o doente continua a ser independente mas pode apresentar uma maior dificuldade em realizar as tarefas diárias.

 

Estado 3: Instabilidade

Postural Moderada Este é o estado intermédio da doença, causa perda de equilíbrio e movimentos mais lentos. As quedas tornam-se mais comuns, o doente continua independente mas os sintomas começam a afetar as atividades cotidianas como comer e vestir. Pode existir um “congelamento” da marcha, dificuldade em andar em linha reta ou até mesmo ficar de pé.

 

Estado 4: Instabilidade

Postural Grave Os sintomas são graves e limitam a qualidade de vida, pode ser necessário um suporte para ficar de pé. O doente não consegue viver sozinho e precisa de um acompanhamento para realizar as atividades diárias.

 

Estado 5: Locomoção

Dependente É o estado mais debilitante, a rigidez das pernas pode impossibilitar a marcha. Pode ser necessária uma cadeira de rodas ou até mesmo ficar acamada. O doente pode sofrer alucinações e delírios. Necessidade de acompanhamento 24 horas.

cuidador passeia com idoso

Diagnóstico e acompanhamento médico

Numa etapa inicial o diagnóstico pode ser mais difícil, visto que os sintomas são mais subtis. Em adultos mais velhos, tende a ser mais complicado porque os sintomas se assemelham a sintomas de envelhecimento, tais como: movimentos mais lentos, perda do equilíbrio, postura encurvada e rigidez muscular

Tratamento e terapias recomendadas

Dependendo do perfil clínico do paciente e da fase em que este se encontra os tratamentos e as terapias podem passar por:

 

  • Medicação específica
  • Estimulação Cerebral Profunda (DBS): opção cirúrgica em casos selecionados com flutuações motoras/tremor resistente, após avaliação especializada
  • Exercício físico estruturado: recomenda-se cerca de 150 min/semana de atividade moderada a vigorosa (aeróbico, força, equilíbrio/agilidade, alongamentos), preferencialmente orientado por fisioterapia. O exercício melhora sintomas motores e não motores
  • Fisioterapia/terapia ocupacional: treino de marcha, equilíbrio, estratégias para “freezing”, energia no dia a dia; seguir diretrizes europeias
  • Terapia da fala: programas LSVT LOUD (voz) e LSVT BIG (amplitude do movimento) têm evidência de benefício
  • Gestão de sintomas não motores: sono, humor, obstipação, dor – combinando ajustamento de fármacos, medidas de estilo de vida e terapias específicas.

Cuidados diários e qualidade de vida

  • Medicação à hora certa (usar alarmes/organizadores)
  • Rotina previsível, com pausas e tarefas em passos simples
  • Sono: higiene do sono e segurança se houver comportamentos durante o sono
  • Nutrição: hidratação, fibra para obstipação; alguns doentes beneficiam de evitar proteínas da dose de levodopa (medicamento que pode ser tomado se recomendado)
  • Exercício diário (mesmo curto) e socialização
  • Sinais de alarme: quedas, confusão súbita, alucinações marcadas, engasgamentos/pneumonia por aspiração — procurar cuidados médicos.

Como adaptar a casa para o doente com Parkinson

  • Remover tapetes soltos e cabos, desimpedir corredores, boa iluminação (luzes de presença)
  • Casa de banho: barras de apoio, cadeira de duche, tapete antiderrapante
  • Quarto: cama a altura segura, acesso fácil à luz, caminho livre até à WC
  • Estratégias anti-queda/freezing: marcas no chão e posicionar mobiliário para passadas amplas
  • Avaliação por terapeuta ocupacional/fisioterapeuta para adaptações personalizadas.

Serviços de apoio disponíveis

Existem vários apoios disponíveis, desde associações, a meios de transporte e redes de apoio.
O importante é que tanto o cuidador como o paciente não se sintam sozinhos durante este processo.

 

  • APDPk – Associação Portuguesa de Doentes de Parkinson: informação, grupos de apoio, formação para cuidadores e serviços de reabilitação (neuro fisioterapia/terapia da fala)
  • Young Parkies: associação cujo objetivo é acompanhar pessoas com Parkinson juvenil. Formada por médicos, investigadores, cuidadores, terapeutas e pacientes.
  • Estatuto do Cuidador Informal: direitos, medidas de apoio e reconhecimento (Segurança Social/Gov.pt)
  • Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI): equipas e unidades com fisioterapia/terapia ocupacional e cuidados continuados (acesso por referenciação clínica)
  • Transporte não urgente de doentes (SNS): assegurado com prescrição médica quando clinicamente justificado; existem regras de isenção. Em alternativa, pode recorrer a serviços privados especializados, como a Ambula, que garante transporte de doentes não urgentes com conforto, segurança e acompanhamento profissional
    SNS 24 e Cuidados de Saúde: orientação e acesso à rede pública.

Testemunho de quem vive com a doença

Joana Mesquita, diagnosticada aos 26 anos, conta que quando foi diagnosticada sentiu que “desabou tudo, saiu o chão debaixo dos pés” no entanto, explica que “o ideal é viver a vida como se não houvesse amanhã, quando nos aparece uma efemeridade destas é que nos apercebemos o quão pequenos somos.” Ouvir o testemunho completo.

 

Pedro Dias Ferreira, foi diagnosticado aos 33 anos, conta que sentiu medo ao início mas que com o passar do tempo é importante a aceitação da doença “ Aceita faz parte de ti, vais aprender a viver de novo. Não é o fim do mundo. Ler testemunho completo.

Viver com dignidade e apoio adequado

Com o diagnóstico certo, o plano clínico individualizado, exercício regular e adaptações simples em casa, é possível manter autonomia e qualidade de vida por muitos anos. Ative a sua rede (família, APDPk, equipa de saúde) e peça apoio cedo — cuidar bem também é cuidar de quem cuida.

Os conteúdos deste blog são informativos. Não substituem diagnóstico ou tratamento médico. Consulte sempre um profissional de saúde.

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