Há momentos que acontecem num segundo, um passo em falso, uma tontura, um tapete que se enrola, mas trazem consequências que podem durar meses. As quedas em pessoas mais velhas não são um “ligeiro susto”. São um dos maiores desafios da saúde pública no envelhecimento e, infelizmente, acontecem mais vezes do que pensamos.
A boa notícia é que a maioria das quedas é evitável. Com informação, atenção aos sinais e pequenas alterações na rotina, é possível reduzir drasticamente o risco e proteger quem mais amamos.
Pontos-chave do artigo
- As quedas são a principal causa de acidentes graves em idosos, mas a maioria pode ser evitada
- O risco aumenta com alterações da visão, força muscular, equilíbrio, doenças crónicas e certos medicamentos
- A casa é um dos maiores fatores de risco: tapetes soltos, má iluminação e pisos escorregadios estão entre as principais causas
- Exercício regular, especialmente de força e equilíbrio, reduz significativamente o risco de quedas
- Adaptar o ambiente (barras de apoio, luzes de presença e percursos desobstruídos) é essencial para prevenir acidentes
- Após uma queda ou fratura, apoio especializado e transporte adaptado facilitam a recuperação e mantêm a autonomia do idoso.
Porque é que as quedas acontecem (e porque são tão perigosas)?
O envelhecimento traz mudanças subtis, por vezes silenciosas: visão menos apurada, reflexos mais lentos, perda de força nas pernas, maior sensibilidade à tontura. Somadas, estas alterações tornam o equilíbrio mais frágil.
A Direção-Geral da Saúde (DGS) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) confirmam que as quedas são a principal causa de morte acidental em pessoas com mais de 65 anos. Só em Portugal, segundo o PORDATA, vivem mais de 2,6 milhões de pessoas com 65+ anos, um cenário que torna este problema ainda mais relevante.
De acordo com guia de prevenção do risco acidentes e quedas, mais de 30% das pessoas com 65 ou mais anos caem todos os anos, e em cerca de metade dos casos as quedas são recorrentes. Além disso, a evidência mostra que, após uma queda, muitos idosos desenvolvem medo de voltar a cair, passam a mexer-se menos, reduzem a atividade física e o contacto social, o que acaba por enfraquecer ainda mais o corpo e aumentar o risco de novas quedas.
O que está por detrás de uma queda: causas que raramente são apenas “acidentes”
Uma queda quase nunca tem uma causa única. É uma combinação entre corpo, mente e o ambiente.
Alterações que vêm com a idade
Com a idade, o corpo vai mudando e isso é perfeitamente normal. A visão perde alguma nitidez, a perceção de profundidade diminui e os reflexos deixam de responder com a mesma rapidez. Também os pés passam a “sentir” menos o chão, e o ouvido interno que é o nosso grande centro de equilíbrio começa a dar sinais de desgaste. Juntos, estes fatores tornam o equilíbrio mais frágil e a recuperação depois de uma queda é mais difícil do que era antes.
Problemas de equilíbrio e marcha
Quando o equilíbrio começa a falhar, ele costuma dar pequenos sinais: uma tontura inesperada, passos mais curtos, o arrastar dos pés ou um desequilíbrio ao virar. São gestos quase imperceptíveis, mas que elevam muito o risco de queda.
A vertigem é, aliás, uma das principais razões de consulta médica em pessoas acima dos 75 anos.
Perda de força muscular
A sarcopenia, ou seja, a diminuição da massa muscular, faz com que movimentos simples como: levantar-se, subir um degrau ou dar a volta à cama se tornem menos estáveis.
Alterações cognitivas
A demência e outros défices cognitivos afastam o idoso da noção de risco. Um simples levantar-se depressa demais pode resultar numa queda grave.
Doenças crónicas e medicação
Alguns dos fatores que são identificados como de alto risco, são:
- Diabetes
- Hipertensão
- Parkinson
- Arritmia
- Anemia
- Má nutrição
- ou a toma de vários medicamentos em simultâneo.
A casa também fala: locais onde as quedas acontecem mais
É natural pensarmos que a casa é o espaço mais seguro para um idoso. Afinal, é o lugar onde vive há anos, onde conhece cada canto e cada gesto de memória. Mas é precisamente por essa familiaridade que muitos perigos passam despercebidos:
- Casa de banho: piso molhado, escorregadio e falta de apoio
- Exterior da casa: degraus irregulares, rampas, passagens estreitas
- Quarto: levantar-se rápido, objetos no chão, falta de luz
- Cozinha e corredores: obstáculos, piso escorregadio, tapetes soltos.
As consequências vão muito além da fratura
Quando um idoso cai, o impacto raramente se limita ao corpo. Uma fratura pode ser o início visível do problema, mas aquilo que acontece depois da queda é, muitas vezes, ainda mais transformador. Muitos idosos passam a mover-se com receio, evitam sair, deixam de fazer atividades que adoravam e perdem parte da autonomia que antes parecia garantida.
O medo instala-se quase sempre em silêncio.
Fraturas e lesões graves
As fraturas do colo do fémur são das mais temidas e com razão: a esmagadora maioria das fraturas da anca em idosos está relacionada com quedas. Muitas exigem cirurgia, longos períodos de recuperação e, em casos graves, podem comprometer a própria vida.
Perda de autonomia
Após uma queda, muitos idosos não voltam a mover-se como antes. Estudos publicados na BMC Geriatrics mostram que até 60% não recuperam totalmente a mobilidade prévia, mesmo depois de tratamento e reabilitação. E isso sente-se no dia a dia: cada gesto passa a ser feito com cautela, o corpo parece “desconfiar” de si próprio e a rotina muda não apenas por limitação física, mas também pelo medo de voltar a cair.
Quedas recorrentes
Depois da primeira queda, o risco de novos episódios aumenta significativamente. Por isso, prevenir a segunda queda é, muitas vezes, tão importante quanto evitar a primeira, é nesse momento que o impacto na autonomia pode ser maior. Perceber o que desencadeia as quedas é o primeiro passo; o segundo é agir. E, felizmente, muitas das medidas mais eficazes são simples e acessíveis.
Como reduzir o risco: mudanças pequenas que fazem uma diferença enorme
Prevenir quedas não é transformar a casa numa sala de hospital. É tornar o dia a dia mais intuitivo, confortável e seguro.
Tornar a casa mais amiga do equilíbrio
Ajustes simples podem reduzir o risco em mais de 50%:
- Luzes LED nos corredores e WC
- Fixar ou retirar tapetes
- Colocar barras de apoio na casa de banho
- Organizar objetos ao nível das mãos
- Usar tiras antiderrapantes em escadas
- Remover mobiliário baixo ou instável.
No fundo, cada melhoria na casa é também uma forma de cuidar do idoso: tornar o espaço mais seguro, mais confortável e mais amigo da sua autonomia.
Escolher o calçado certo
Pode parecer um detalhe, mas faz realmente diferença. O calçado certo é uma das formas mais simples de garantir mais equilíbrio no dia a dia. Sapatos fechados, com sola de borracha e bom apoio no tornozelo funcionam quase como um “seguro de vida do equilíbrio”. Já chinelos, pantufas largas ou andar de meias em piso liso aumentam muito o risco de escorregar e devem ser evitados.
Movimentar o corpo (todos os dias)
Que o exercício faz bem já todos sabemos mas, no caso das quedas, é provavelmente a intervenção mais poderosa de todas. Mexer o corpo fortalece os músculos, melhora o equilíbrio, dá mais confiança ao caminhar e mantém as articulações “acordadas”.
E o melhor é que não precisa de ser intenso. Mais importante do que a intensidade é a consistência: pequenos movimentos, feitos todos os dias, conseguem transformar a segurança e a autonomia de um idoso muito mais do que uma sessão pesada feita de vez em quando.
Rever a medicação com o médico
Rever a medicação com o médico é um passo essencial para prevenir quedas. Alguns medicamentos como: sedativos, antidepressivos, anti-hipertensores ou certos medicamentos para a diabetes, podem provocar sonolência, tonturas ou quedas súbitas da tensão arterial.
Por isso, uma reavaliação regular da medicação ajuda a identificar riscos escondidos e a ajustar o tratamento para que o idoso se sinta mais seguro no dia a dia.
Quando o problema está no equilíbrio: reabilitação vestibular
Muitos seniores vivem anos a lidar com vertigens, tonturas e aquela sensação de “o chão mexe”, sem saber que há tratamento e que pode fazer uma diferença enorme no dia a dia. À medida que envelhecemos, o ouvido interno (que é o nosso centro natural de equilíbrio) perde eficiência, e isso traduz-se em instabilidade, passos inseguros e quedas aparentemente “sem motivo”.
É aqui que entra a reabilitação vestibular. Orientada por otoneurologistas e fisioterapeutas especializados, esta abordagem usa exercícios simples e específicos para treinar o cérebro a compensar melhor a instabilidade. Trabalha o olhar, a postura, os movimentos da cabeça e a forma como o corpo reage às mudanças de posição.
Na prática, é um método seguro, eficaz e adaptado ao ritmo de cada pessoa muitas vezes conseguindo reduzir de forma marcada as quedas associadas a tonturas.
E talvez o mais importante: ajuda o idoso a recuperar confiança para voltar a caminhar com mais autonomia e menos medo.
E quando a queda já aconteceu? Como agir com segurança
Se um idoso cai, o mais importante é manter a calma. Este primeiro segundo faz toda a diferença. Aproxima-se devagar, fale com ele e tente perceber o que sente.
A segunda regra é simples, mas crucial: não o tente levantar à força. Puxar ou erguer sem apoio adequado pode agravar uma lesão que ainda não é evidente.
Observe com atenção. Se houver dor intensa, alguma deformidade no membro, confusão, ferimentos na cabeça ou se o idoso não conseguir apoiar o peso na perna, não hesite:
- Ligue para o 112
- Ou contacte o SNS 24 (808 24 24 24).
Nestes casos, cada minuto conta para garantir uma avaliação segura e evitar complicações.
Após a queda, a recuperação exige apoio
Uma fratura, especialmente do fémur, implica:
- Internamento
- Cirurgia na maioria dos casos
- Fisioterapia intensiva
- Múltiplas consultas e exames
- Reabilitação prolongada.
E aqui surge uma dificuldade real: a mobilidade reduzida.
É precisamente nestas situações que o Transporte Não Urgente de Doentes da Ambula se torna um apoio decisivo:
- Leve a pessoa idosa com conforto e segurança às sessões de fisioterapia
- Garanta transporte adaptado após fratura de fémur
- Facilite deslocações a ortopedia, reabilitação e exames (raio-X, posturografia)
- Evite esforços e quedas adicionais durante deslocações.
A dimensão emocional: como recuperar a confiança
O medo de cair é tão incapacitante como a própria queda.
Por isso, o apoio emocional, seja da família, seja de profissionais, é tão importante quanto a fisioterapia. Caminhar com alguém ao lado, recomeçar devagar, celebrar pequenas conquistas: tudo conta.
Envelhecer não tem de significar cair. Com pequenas adaptações na casa, atenção à saúde, movimento diário e acompanhamento contínuo, é possível manter a autonomia, a segurança e a qualidade de vida.
Os conteúdos deste blog são informativos. Não substituem diagnóstico ou tratamento médico. Consulte sempre um profissional de saúde.



