A perda do apetite numa idade mais avançada é bastante comum e pode surgir por diversos motivos. O essencial é perceber o que está por trás (seja algo físico, emocional ou prático) para poder ajudar.
Com o avançar da idade as necessidades do corpo mudam, no entanto continua a precisar de energia e nutrientes: com atenção aos sinais e pequenas adaptações nas refeições (horários, texturas, companhia), é possível prevenir a desnutrição e outros problemas e voltar a trazer prazer à mesa.
Pontos-chave do artigo
- Hiporexia (anorexia do envelhecimento) é frequente e resulta de alterações hormonais/digestivas, perda de paladar/olfato e fatores psicológicos/sociais
- Causas incluem doenças crónicas, dor, problemas orais/disfagia e efeitos de medicação (polimedicação)
- Sinais de alerta: desidratação, engasgos/tosse a comer (requer avaliação clínica)
- O que ajuda: porções pequenas e frequentes, alimentos densos em nutrientes (pratos “enriquecidos”), texturas adequadas, hidratação, convívio e atividade física leve
- Tratamento: rever causas e fármacos; suplementos orais podem ajudar; estimulantes de apetite, com monitorização
- Seguimento por médico/nutricionista e Serviço de Apoio Domiciliário/entrega de refeições melhoram segurança e adesão.
O que é a hiporexia e por que ocorre no envelhecimento
Denomina-se de hiporexia a diminuição do apetite, é muitas vezes conhecida por “anorexia do envelhecimento”: Resulta da redução do apetite em idades avançadas, e associa-se ao risco de desnutrição, deteriorando a saúde do idoso.
Alterações fisiológicas e hormonais associadas
Com a idade, o nosso corpo vai mudando, o que resulta em alterações nos sistemas hormonais e gastrointestinais. Aliado a isto, surge também um atraso do esvaziamento gástrico e por isso a falta de apetite.
Fatores psicológicos e sociais (depressão, isolamento)
Com a idade, é frequente que a tristeza e a solidão se façam sentir. Quando o coração fica mais pesado, o apetite e a energia também diminuem. Muitas vezes o simples acto de partilhar a mesa com família, vizinhos, num centro de dia transforma as refeições em momentos de companhia, prazer e nutrição.
Problemas de saúde e medicamentos que diminuem o apetite
Para além do que já abordámos, há situações de saúde e alguns medicamentos que podem diminuir o apetite, alteram o paladar, dão náuseas ou fazem sentir saciedade mais cedo.
Doenças crónicas que afetam o apetite
Algumas doenças como: infeções, insuficiências cardíacas, cancro, demência, problemas da tiróide e a dor crónica, reduzem a ingestão.
Efeitos secundários de medicamentos
São vários os medicamentos que podem tirar o apetite ou até mesmo alterar o paladar: antidepressivos, digoxina, alguns anti-hipertensores e antibióticos. Em pessoas idosas, a sensibilidade aos fármacos é maior e o cuidado deve ser redobrado.
Problemas dentários, digestivos e sensoriais
Os problemas dentários também começam a ser mais comuns, a grande maioria dos idosos utiliza prótese e se esta não for adaptada pode causar desconforto na alimentação. Os problemas digestivos afetam a produção de enzimas digestivas e ácidos gástricos, dificultam a digestão e causam desconforto, diminuindo a vontade de comer. As alterações sensoriais podem modificar o gosto e o cheiro da comida, tornando-a menos apelativa.
Sinais de alerta e consequências da perda de apetite
É normal que o corpo apresente sintomas da falta de apetite, por isso, é necessário estar atento aos sinais de alerta.
Sintomas físicos e comportamentais
Os sintomas físicos passam pelo emagrecimento involuntário, fraqueza, tonturas, menos energia e desinteresse pelas refeições.
Existe também uma alteração do paladar, cheiro, maior dificuldade de mastigação ou a engolir os alimentos.
Aliado a isto podem surgir náuseas e obstipação.
Riscos de desnutrição e fraqueza
A desnutrição e a fraqueza causam riscos como: sarcopenia, fragilidade, quedas e podem levar a internamentos ou a uma maior possibilidade de morte.
 
															Estratégias para estimular o apetite
Adotar estratégias para combater a desnutrição às vezes passa por pequenas alterações do dia-a-dia.
Estas são as nossas sugestões:
Planear refeições regulares e apelativas
O truque são refeições mais pequenas mas comer mais vezes. Criar um plano alimentar através de soluções práticas como tornar as refeições apelativas, seja através das cores, aromas e texturas, podem ser a chave desta mudança.
Alimentos ricos em nutrientes e suplementos
Se as refeições forem ricas em nutrientes podem saciar mais, é importante fortalecer os pratos como azeite, ovos, queijo fresco light e frutos secos. A proteína macia também pode ser uma boa opção ( pescadas/ leguminosas bem cozidas).
Às vezes é necessário o uso de suplementos orais para aumentar a ingestão de alimentos e consequentemente o peso (quando há risco de desnutrição). A melhor opção, passa por um aconselhamento médico e personalizado. No entanto, conheça o nosso guia sobre alimentação para idosos.
Importância do exercício físico e do convívio
Quanto mais mexemos o corpo, maior é o nosso apetite.
Uma atividade física adequada à condição do idoso pode ajudar, sejam caminhadas ou exercícios leves, o importante é estimular o corpo. Esta atividade física não só aumenta o apetite como também melhora o humor e o convívio aumenta o prazer de comer.
Quando procurar ajuda médica e tratamentos disponíveis
Quando nenhuma das opções anteriores funciona, é preciso avaliar o caso com mais profundidade, nada melhor do que a ajuda médica.
Uso de estimulantes de apetite
Antes de estimular o apetite com medicação, é importante reconhecer e tratar a causa deste problema (seja dor, depressão, problemas orais ou digestivos, medicamentos, etc).
Através do aconselhamento médico indicado, estes estimulantes abrem portas para o aumento de apetite, mas também apresentam alguns riscos, como: edema, hipoglicemia, tromboembolismo. A decisão deve ser informada e consciente.
Acompanhamento com nutricionista ou médico
Se surgirem sinais de desnutrição, desidratação ou disfagia, é relevante que haja um acompanhamento clínico.
Através deste contacto profissional irá existir uma avaliação da história clínica e revisão da medicação, rastreio de depressão, avaliação oral/dentária, exames básicos (p. ex., tiroide, inflamação), e avaliação da deglutição quando há engasgos/tosse.
Depois é feito um plano alimentar personalizado: metas energéticas e proteicas, fracionamento das refeições, fortificação dos pratos e, se necessário, suplementos orais.
Receitas práticas para idosos sem apetite
Creme de legumes enriquecido: sopa de abóbora/legumes + azeite cru + queijo fresco batido no fim
Ovos mexidos cremosos com requeijão e ervas, servidos com batata-doce assada
Batido “completo”: leite/iogurte, banana madura, aveia fina, manteiga de amendoim, canela
Iogurte cremoso com mel & banana
Papas de aveia com leite, maçã ralada, nozes picadas e fio de mel.
Apoios e serviços de entrega de refeições
De forma a responder a esta questão social, foi criado o Serviço de Apoio Domiciliário (SAD), que entrega refeições ao domicílio, ajustadas a dietas prescritas. É possível procurar este apoio na Carta Social, por Pessoas Idosas → Serviço de Apoio Domiciliário (SAD) e selecione o seu concelho para ver.
 
															Algumas entidades com serviço de apoio domiciliário que inclui refeições são: várias delegações da Cruz Vermelha e Misericórdias locais.
A falta de apetite tem solução quando olhamos para o quadro completo. O objetivo é simples e humano: voltar a comer com prazer e segurança, protegendo força, autonomia e bem-estar.
Os conteúdos deste blog são informativos. Não substituem diagnóstico ou tratamento médico. Consulte sempre um profissional de saúde.
 
								


