Quando o mundo começa a soar distante, podemo-nos sentir um pouco mais sós. Se conversar deixou de ser prazeroso, a televisão começou a ficar mais alta e surge o medo de “estar a chatear” ao pedir para repetir, este artigo quer ser companhia: explicamos, com calma, como os aparelhos auditivos podem devolver-lhe conforto, autonomia e felicidade.
Pontos-chave do artigo
- Os aparelhos auditivos digitais captam, processam e amplificam o som de forma personalizada, melhorando a compreensão da fala e a participação social
- Presbiacusia é a causa mais comum no envelhecimento; sinais de alerta incluem TV alta, pedir para repetir e fadiga auditiva
- Tipos de aparelhos (RIC/RITE, ITE/ITC/CIC, CROS/BiCROS, condução óssea) e opções recarregáveis ou de pilhas; a escolha depende do perfil e do contexto de uso
- Expectativas realistas: reabilitam a escuta (não “curam”); o sucesso exige teste prático, ajustes e acompanhamento
- Em Portugal: começar por ORL/Audiologia, comparar serviço incluído e custos, e confirmar comparticipações (ADSE/seguros/municípios)
- Manutenção simples (limpeza, secagem, filtros) e revisões periódicas aumentam conforto, desempenho e vida útil.
O que é um aparelho auditivo?
É um aparelho que faz grandes milagres. O aparelho auditivo é um dispositivo eletrónico que capta o som, é processado digitalmente e devolvido ao ouvido através de um altifalante. Existem vários tipos de aparelhos auditivos, mas o objetivo é partilhado por todos, devolver a audição e a felicidade.
Perda auditiva comum no envelhecimento (presbiacusia)
A presbiacusia é um desgaste gradual das células sensoriais do nosso ouvido, começa pelos sons mais agudos, por isso ouvir é possível, mas entender começa a ficar difícil. É uma das condições crónicas mais comuns que surgem no envelhecimento. Esta perda auditiva quando não tratada pode causar isolamento social, cansaço e menor segurança. Existem sinais que devem ser analisados com atenção.
Sinais de alerta (aumentar volume, pedir para repetir, fadiga social)
- TV/rádio cada vez mais alto
- “Hã?”/“Pode repetir?” sobretudo em restaurantes e salas ecoantes
- Fadiga auditiva no fim do dia: ouvir dá trabalho
- Estratégia: se estes sinais existem há >3 meses, marque ORL/Audiologia para um audiograma.
Como funciona um aparelho auditivo?
Como todos os dispositivos, os aparelhos auditivos passam por um determinado processo até que o som possa ser reproduzido.
Microfone → processador digital → amplificação → altifalante
- Microfones captam o som (muitos modelos têm dois para perceber direção)
- Processador DSP analisa o sinal e aplica o “ganho” certo por banda de frequência
- Saída/receiver envia o som ao ouvido por tubo/oliva (BTE/RIC) ou diretamente (intra-auricular)
- Ajuste fino: o profissional calibra na consulta e re-afina após uso real.
Programas e algoritmos (redução de ruído, direcionalidade, feedback)
- Redução de ruído: atenua sons contínuos (ventoinhas, tráfego) preservando a fala
- Direcionalidade: foca no que está à frente; útil em conversas frente-a-frente
- Gestão de feedback: evita “apitos” ajustando fase/ganho e melhorando a vedação
- Outros: deteção automática de ambiente, compressão de frequências (traz agudos para zonas audíveis), cancelamento de vento.
Conetividade (Bluetooth, telecoil/indução, apps no telemóvel)
Os aparelhos ao longo dos anos foram evoluindo e as funcionalidades também.
- Bluetooth/LE Audio: chamadas e música diretamente no aparelho; alguns usam o telemóvel como microfone remoto (professor/orador)
- Telecoil (T-coil): liga a loops de indução em igrejas, teatros, balcões; som claro e sem eco
- Apps: mudar programa/volume, localizar aparelhos, fazer “afinagens” simples entre consultas.
Os Tipos de aparelhos auditivos (e para quem servem)
Não existe um aparelho universal que se adapta às necessidades de todos. Por isso vamos conhecer quais existem e para que servem.
RIC/RITE (receiver-in-canal/ear)
Este aparelho auditivo é mais discreto e serve para quem teve perdas ligeiras a severas. Transforma o som de forma natural, é fácil de trocar e equilibra a estética e o desempenho. A manutenção é simples mas é bastante necessária visto que o receiver no canal é mais exposto à umidade e cera.
ITE/ITC/CIC (intra-auricular/canal/invisível)
Este aparelho destina-se a pessoas que valorizam a estética e a simplicidade tudo numa só peça. Apresenta vantagens como ser estável mesmo quando se usa máscara ou chapéu e não tem uma peça atrás da orelha. No entanto, também tem algumas limitações, por ser mais discreto tem um espaço mais reduzido para os microfones e antenas, o que diminui a potência e os recursos são mais modestos, vai sempre depender da anatomia do canal.
CROS/BiCROS – perda unilateral/assimétrica
Este tipo de aparelho encaixa-se nas necessidades de pessoas que perderam a audição de um dos ouvidos, desta forma o microfone do lado “mau” envia o som para o lado “bom” e evita pontos cegos sonoros.
Condução óssea – indicações específicas
O aparelho auditivo de condução óssea serve para quem tem atresia do canal, otites crónicas com contraindicação para via aérea, perdas condutivas/mistas ou surdez unilateral.
Opções: diademas/clip externos ou implantes (mediante avaliação ORL).
Recarregável vs. pilhas (zinc-air)
Apresentam vantagens como:
- Recarregáveis: práticos (base de carga), ótimos para quem tem destreza limitada; autonomia típica 18 a 30 horas
- Pilhas: baratas e trocam-se rápido; úteis se não tem rotina para carregar
Dica: pense no seu dia (horas de uso, chamadas, streaming) ao escolher.
Quando “vale a pena” usar
Benefícios comprovados
Os aparelhos auditivos estão associados a melhorias na comunicação, permitem uma fala mais nítida e um menor esforço para se ouvir. Reduzem o isolamento, incentivam a participação social e melhoram a qualidade de vida. Em termos de segurança também apresentam um grande impacto, permitem ouvir as campainhas, alarmes de segurança e os barulhos do trânsito (carros a passar e buzinas).
Impactos no dia a dia
Em termos do dia a dia, estes dispositivos criam uma sensação de pertença e inclusão, ajudam a que se participe ativamente nas conversas, em casa o volume da televisão pode ser confortável para todos os habitantes, atender chamadas deixa de ser uma dor de cabeça porque passa-se a ouvir com mais clareza e lidar melhor com ruído.
Expectativas realistas
É importante reforçar que os aparelhos auditivos não curam o problema mas, reabilitam a escuta. O processo de adaptação aos dispositivos nem sempre é imediato e é necessário que se entenda que o cérebro precisa de tempo para reaprender a escutar sons que anteriormente estavam ausentes e isto pode demorar algumas semanas (por norma entre 2 a 6). O acompanhamento do médico é essencial para que sejam feitos pequenos ajustes de forma a transformar positivamente a experiência.
Como escolher (passo a passo em Portugal)
O primeiro passo é uma avaliação com ORL/Audiologia para diagnóstico e audiograma. Depois, peça uma demonstração programada ao seu perfil e teste o aparelho nas suas rotinas (casa, rua, trabalho), voltando para afinações. Na decisão pese o conforto e encaixe, a facilidade de limpeza, a eficácia dos microfones direcionais, a conetividade (Bluetooth/telecoil), a usabilidade dos controlos e a qualidade do pós-venda (revisões, reprogramações, aparelho de substituição).
Custos aproximados e fatores de preço – tecnologia, marca, serviços incluídos
| Marca / Loja | Básico | Intermédio | Avançado | Diferenciais & Serviços |
|---|---|---|---|---|
|
Audição Activa
PT
|
≈ 295 € | ≈ 700–1 500 € | ≈ 2 000–3 500 € |
Básica · Standard · Premium
Reprogramações
Assistência vitalícia
Bluetooth/IA nas gamas altas; teste sem compromisso. |
|
Audika
(ex-Acústica Médica)
PT
|
≈ 299 € | ≈ 1 000–2 000 € | até 4 380 € |
Faixa oficial
60 dias para troca
Pilhas incluídas
|
|
Minisom
(Amplifon)
PT
|
≈ 500–700 € | ≈ 900–1 800 € | ≈ 2 000–2 500 € |
Orçamento em consulta
Adaptação personalizada
Planos de pagamento
Preço varia por miniaturização & potência. |
|
Wells
PT
|
780 € (lançamento) | ≈ 1 000–1 800 € | ≈ 2 000–2 500 € |
15 dias de teste
Reprogramação anual
Pilhas 2 anos
Marcas internacionais; opções recarregáveis. |
|
Audição Directa
Online
|
550 € BTE/ITC | — | — |
Segmento económico
Teste online
Apoio telefónico
Guia recarregável vs. pilhas; acessórios e consumíveis. |
|
Marcas internacionais
(Phonak, Beltone, Oticon, Widex – UE)
|
≈ 900–1 300 € | ≈ 1 500–2 000 € | 2 190–2 790 € |
Bluetooth LE Audio
IA & sensores
Garantia 4–5 anos
Ajuste remoto
Valores de lojas europeias para topo de gama. |
Comparticipações/seguros
ADSE
A ADSE costuma comparticipar próteses auditivas quando adquiridas em entidades convencionadas e com prescrição de ORL. O valor e a periodicidade de renovação são definidos na Tabela do Regime Convencionado e podem diferir por tipo de aparelho (por ouvido) e por incluir/ou não serviços associados (moldes, ajustes, revisões).
Outros subsistemas (SAMS, SAD/GNR, IASFA, etc.)
costumam seguir lógica parecida: rede credenciada, ato prescrito por ORL e limites por aparelho/por ouvido.
Seguros de saúde
Nem todos os seguros incluem próteses auditivas no plano base. Quando incluem, é comum haver:
- Limite anual ou por equipamento (por ouvido)
- Período de carência (p. ex., 60–180 dias após contratação/upgrade)
- Copagamento (percentagem a cargo do segurado)
- Obrigatoriedade de rede (comprar numa loja/fornecedor convencionado).
Apoios municipais e ação social
Algumas câmaras e juntas de freguesia têm fundos de apoio para dispositivos de saúde em situações de carência económica (mediante IRS/ISI e relatório clínico).
Manutenção, higiene e durabilidade
Manter uma rotina diária em termos de limpeza aumenta a longevidade do equipamento. Passos simples como:
- Secar à noite num estojo desumidificador
- Limpar olivas e tubos
- Substituir filtros de cera
- Guardar longe de humidade e calor.
Outro passo importante é agendar revisões a cada 6–12 meses para uma limpeza profissional, verificação acústica e reprogramação. A vida útil dos aparelhos situa-se entre três e sete anos; procure assistência se notar quedas de autonomia, apitos persistentes, som abafado ou falhas intermitentes.
Mitos e dúvidas frequentes
“Fico dependente?” “Vai apitar?” “As pessoas vão reparar?”
- Dependência: não; ganha qualidade de vida
- Apitos: evitáveis com boa vedação e ajuste
- Descrição: Os modelos atuais (RIC/CIC) são pouco visíveis.
“Posso usar com máscara/óculos/chapéu?”
- Sim. Ajuste de encaixe e uso de clips/retentores previnem quedas ao tirar máscara/chapéu.
“E se tiver artrite ou destreza reduzida?”
- Prefira recarregáveis, botões maiores e app para controlar volume/programas sem manusear peças pequenas.
Ouvir melhor é viver melhor
Com a avaliação certa, teste real e acompanhamento, os aparelhos auditivos devolvem clareza, autonomia e segurança e abrem a porta a conversas e momentos que fazem falta.
Resumo e próximos passos
- Marque uma avaliação com ORL/Audiologia
- Peça um período de demonstração e leve notas de situações difíceis
- Avalie conforto, desempenho no ruído e a conetividade de que precisa
- Confirme condições de garantia e apoios (ADSE/seguros/município)
- Mantenha revisões periódicas e uma rotina de higiene simples.
Os conteúdos deste blog são informativos. Não substituem diagnóstico ou tratamento médico. Consulte sempre um profissional de saúde.



